Procurando
sobre conceitos para autoconhecimento e autoconsciência, antes de escrever este
artigo, percebi que não há nada muito claro sobre o assunto, pelo menos dentro
do meu padrão, do que considero como clareza.
É inato
no espírito humano a busca pelo conhecimento, o que demanda também a questão do
autoconhecimento. Conhecimento sobre o planeta, a natureza e a vida, oferecidos
pela ciência, que incluem a anatomia e fisiologia humana e, portanto, envolvem
o conhecer a nós mesmos, ou seja, o autoconhecimento. Eu e você somos parte da
natureza, constituídos por elementos do planeta que nos acolhe, a mãe Terra.
Porém, o
autoconhecimento não extrapola as barreias da ciência materialista. Quando adentramos
a esfera abstrata que a neurociência, a medicina e a psiquiatria não alcançam,
iniciamos, no meu entendimento, o caminho transpessoal, que vai além do
autoconhecimento. É o que chamamos de autoconsciência e que apesar dela conter
o autoconhecimento, não são a mesma coisa.
Autoconsciência
é o que as filosofias, psicoterapias e práticas orientais como o budismo, taoísmo
e yoga, além das culturas indígenas de todas as regiões do planeta,
proporcionam e o autoconhecimento é o que a civilização ocidental tem feito de
forma prepotente, tentando moldar a natureza, a mente e a vida a seu favor, em
prol de seu ego.
A
autoconsciência contém o autoconhecimento, mas o autoconhecimento não contém a
autoconsciência, porque partem de pressupostos diferentes. O autoconhecimento é
individualista e a autoconsciência nos leva a comunhão com o céu e a terra.
Atualmente
temos falado muito sobre autoconhecimento, como ferramenta para uma vida
saudável mental e material. Saímos da primazia da razão do córtex cerebral e da
inteligência racional e estamos acessando os recursos da inteligência emocional,
mas continuamos apenas moldando, reformando, trocando as telhas da casa do
autoconhecimento. Eu pergunto a você o que será que temos além desta casa em
que o ego habita em sua individualidade?
A
autoconsciência é o universo e o autoconhecimento é a casa que escolhemos
morar. Por este motivo continuamos infelizes, insatisfeitos com o que temos e
persistimos em querer sempre mais ou algo diferente. Não basta a casa do
autoconhecimento porque bem lá no nosso ser interior, sabemos que não somos
somente o que o autoconhecimento nos traz.
Já tem
muita gente duvidando de que possamos chegar a um denominador comum sobre quem
somos, a partir do autoconhecimento e eu concordo. O autoconhecimento se limita
aos muros da ciência materialista. E algumas pessoas já estão pulando os muros,
andando pelas redondezas e descobrindo novos ambientes.
O
autoconhecimento não é suficiente para sabermos quem somos e o que estamos fazendo
aqui. Ele não explica nossa instabilidade constante que vai muito além do
espectro das emoções, que refletem a nossa animalidade.
Sim,
somos animais racionais, mas não paramos por aí. Temos muito ainda a descobrir
sobre nós mesmos e a autoconsciência, que é ir além da casa do ego, é o
caminho. Siddartha Gautama, o Buddha, sintetizou o mapa que nos tira da casa do
autoconhecimento e nos leva para o universo da autoconsciência.
Em
poucas palavras, ou melhor, sem dizer uma palavra, ele disseminou o mapa da
autoconsciência.
Há cerca de dois mil e
seiscentos anos, uma grande assembleia se reuniu para ouvir os ensinamentos de Buda.
“...Ele trouxe uma flor em
sua mão. Olhou para todos na Assembleia, piscou os olhos e sorriu. Não
pronunciou uma única palavra. As pessoas se entreolharam surpresas. Qual o
significado desse sermão silencioso? Apenas uma, entre todas as inúmeras
pessoas presentes, o compreendeu, piscou os olhos e sorriu de volta. Era
Makakasho, o primeiro discípulo de Buda a receber a transmissão do Darma, a
confirmação de que ele era um de seus sucessores diretos, que o compreendia em
grande intimidade. Em silêncio e no silêncio os ensinamentos (Darma) assim
foram passados de uma pessoa a outra, pela primeira vez. Buda então disse:
"Eu possuo a maravilhosa mente de Nirvana (paz, tranquilidade sábia) e a
visão que preserva o tesouro dos verdadeiros ensinamentos. Agora, os transmito
a você, Makakasho..." (texto retirado do artigo de Monja Coen, Matéria sobre a importância do silêncio)
Entre
alguns dos seus ensinamentos, a principal compreensão é a do silêncio que
dissolve a mente ilusória e impermanente.
Traz a reflexão de que autoconhecimento é a mente, é uma ilusão. A morte
da mente e da ilusão da vida, esta é a realidade atemporal e absoluta que
somente a autoconsciência tem potencial para vivenciar.
Busque
autoconsciência, saia do mundo da ilusão de que o autoconhecimento pode gerar
plenitude. Ele produzirá alguns momentos de prazer, quem sabe, mas jamais
tirará você da rota obscura da visão parcial sobre quem é você.
Namastê
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