Um artista pintou uma tela que traduzia o seu
sofrimento. Em um arroubo de fúria ele a destruiu, mas o seu sofrimento
continuou lá dentro dele, nada mudou.
Em todos os desequilíbrios
psicológicos e físicos nos defrontamos com o sofrimento que está além da dor
física que pode ser apalpada num exame médico.
Somos portadores dessa
sensação que extrapola os cinco sentidos e que chamamos de sofrimento. Ele não
é físico, mas é sentido em alguma parte de nós. O sofrimento não pode ser
tocado pelas mãos, mas algumas vezes, ele vem à tona, na catarse, quando
recebemos uma massagem, num abraço, num carinho.
Ele está presente em nosso
ser, incomodando, roubando o nosso prazer, destruindo nossos relacionamentos,
tirando nossa qualidade de vida e nosso direito a felicidade.
Nos transtornos
psicológicos, o sofrimento é mais crível e no ambiente das sessões
psicoterápicas, ele é o personagem principal. Falar sobre o sofrimento e tentar
resolver as questões que ele acomete, faz parte do processo terapêutico.
O sofrimento é um vilão
implacável e a ciência tem um entrave em relação a ele, porque em seu paradigma
materialista não cabem sensações sutis ou abstratas. Ele surge somente na
escuridão sutil.
Por esta dificuldade, por uma
visão estreita aos limites da mecânica materialista, o ser humano é combalido
pelos venenos que ele próprio fabrica, na ânsia que traz para alterar a química
do sofrer.
Porém, não basta mudar a
química do corpo se não compreendermos a química da alma. E como tratar a alma?
A medicação para a alma é o
acolhimento, a aceitação e a transformação do sofrimento em cura. Um caminho
que faz florescer a compaixão e dissolver o campo das emoções destrutivas.
Em pequenas doses de
autoconsciência podemos compreender que todo sofrimento traz, no fundo, um
desejo por amor, prazer, alegria, bem-estar. Essas sensações internas que,
ignorantes de nós mesmos, buscamos fora de nós. Tentamos sentir sensações
agradáveis em alguém, em alguma situação ou objeto de desejo. Mas, todo o
bem-estar que se baseia no outro, sempre é passageiro.
Nada que venha de fora, seja
o que for, seja quem for, será capaz de prover nosso mundo interior
permanentemente. Porque nada temos, mais que a nós mesmos. E precisamos
aprender a conviver com a nossa própria companhia.
O sofrimento é falta de
autoamor. É uma casca dura e grossa que criamos no campo emocional e mental,
dos pensamentos e sentimentos disfuncionais. Uma casca que ganha vida própria,
porque acreditamos em sua existência.
Pensamentos e sentimentos
disfuncionais sobre a vida, sobre quem somos. E geram um corpo de sofrimento,
desequilibrado e constituído de medo. Ficamos envoltos por uma sombra que não
permite a passagem da luz que nosso ser essencial traz.
Esse corpo de sofrimento que
é sutil e tão real vai se cristalizando e atingindo o corpo físico.
É necessário regatar a
alegria e o prazer pela vida, desmanchar a corpo do sofrer. Ele serve como uma
defesa, um escudo protetor contra novas experiências. Ele é constituído por
experiências negativas do passado que são sua matéria prima. O corpo de
sofrimento impede a liberação dos hormônios da felicidade, do bem-estar.
Ele nos fala o tempo todo
sobre o que é certo ou errado, sob o prisma do passado e como podemos tentar
controlar o futuro. Ele produz doenças no corpo e alimenta a mente doentia.
Para tratar as doenças
geradas pelo corpo de sofrimento até dissolvê-lo é necessário escapar das
armadilhas da mente e nos colocar no aqui e agora.
Primeiro praticar meditação
e observar o corpo do sofrer. Dissociar-se dele e acessar a luz interior que
cura. Um caminho do sofrimento ao amor incondicional, do medo à compaixão, do
ego ao self, do sofredor ao iluminado.
E assim guiar a reconstrução
de um ego saudável que serve ao espírito como roupagem transitória para suas conquistas
eternas.
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